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Um capítulo mais adiante... "Ela perdeu o controle de novo..."

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V ou à casa de Edgard para tomar banho e me trocar. Visto o short jeans 2, a camisa da Joy Division, enfio os pés nas botas. Kim está na sala falando ao telefone e acena pra mim quando passo. Subo na moto, essa parte é divertida, trepar na moto. Me enche de um puta orgulho e vaidade. Especialmente quando ligo o motor e dou a partida.   Atravesso o terreno e saio pelo portão sem ver ninguém, ao invés de passar pela mesma rua da frente viro à esquerda, sem saber onde vai dar. O muro do Ferro Velho continua por alguns metros adiante, passo por casas, o asfalto é ruim, mato cresce pelas rachaduras. A moto sacode igual um cavalo. Estou indo em busca de sensações, quero ver coisas, sentir adrenalina.   Giro o punho no acelerador e corto a cidade sem prestar atenção ao redor, focada à frente. O vento escorre pela minha pele, meu cabelo é puxado para trás com violência. Sinto a vibração constante do motor me penetrar, e entro numa névoa hipnótica e distante. Eu saio do meu c

CAP. 1

São Paulo, Junho de 2010. F im de tarde; acima de uma lagoa imunda espelhada pelo sol, na marquise de um prédio abandonado. Uma felina borralheira e langorosa observava os arranha-céus do outro lado da ponte. Sentada em uma rachadura no concreto com pernas esticadas no beiral e as costas apoiadas em uma lasca de parede quebrada ela mexia impaciente entre as pedrinhas, tentando esmagar uma formiga que se movimentava ligeira entre as migalhas do biscoito que ela acabara de comer. A pontas dos seus dedos impacientes pressionavam as pedras ali, aqui, por entre os cacos, farpas, até ouvir o estalar baixo da formiga finalmente capturada. Ela levantou e olhou ao longe.  Seus olhos pretos, lustrosos como petróleo. O céu azul muito claro, quase branco, com as bordas rosa aguado. Ouvia-se o zumbido do tráfego ao fundo, uma cinere estridente muito próxima e o calor condensava tudo em uma pressão insistente na mente. Mesmo ali em sua contemplação não se sentia confortável, acordar

Capítulo 6

6 B lake está a cinco horas de sua cidade, pilota tranquilamente na estrada. Há poucas luzes, poucas casas, muitas árvores, ele divide o asfalto apenas com caminhões ocasionais. Vai virar a noite viajando, o barulho do seu motor é o único som. O ponteiro marca 120, o tempo diminui, as sombras das árvores passam como vultos. O ponteiro marca 130, o vento raspa sua pele, as luzes noturnas se tornam flashes, sua mente acelera, as imagens se confundem. O ponteiro marca 160, seu coração arde, a mente se eleva de prazer. Ele está indo de encontro ao seu lugar favorito . Para a frente, com força. O ponteiro marca 200, Blake pensa em tudo e em nada. Ele vê os últimos anos de sua vida passarem por ele, ele vê apenas o presente, ele não vê nada na neblina da noite. O tempo não significa nada. Pow!! Um estampido de tiro. Uma lembrança de estilhaços o acerta na parte direita do corpo. Em um lugar escuro, passos correndo. Blake tem repassado cenas daquela noite em sua mente, mas não conseg

Capítulo 5

5 H á muitos quilômetros dali , um vulto preto passa por detrás de um Fiat estacionado em frente à casa do prefeito. A noite é breu, o vulto confere a hora no mostrador digital no relógio de pulso. Os números vermelho-fluorescentes marcam um 1h07 am. Tá com insônia senhor prefeito? Ou ainda tá comendo sua coroa? O vulto olha para a única janela acesa na casa de dois andares, depois para os dois lados da estrada que se estende sumindo de vista na escuridão. As casas da vizinhança estão adormecidas, tudo calado. Os ventos do Outono sopram gelados entre as árvores. Noite linda, aprova o vulto olhando a escuridão silenciosa com gosto. Meia hora se passa, a luz da janela apaga e os dentes brancos da figura escura são expostos em um sorriso malicioso. Está cansada de esperar, mas é cautelosa, vigia a casa por mais meia hora, nenhum movimento. Leva uma mão enluvada ao bolso, pega o canivete, na outra a arma em punho. Vamos lá! A figura sente a excitação que a toma em situações c

Capítulo 4

4 E stava fazendo o que tinha que fazer, era como sentia. Recostou no banco razoavelmente confortável, com a cabeça reclinada no encosto, o céu nublado correndo por seus olhos. LuAnn não pensava em nada, em sua mente havia apenas o eco do suspiro rascante, "finalmente", "finalmente", uma nota grave e constante como as batidas de seu coração. Ela relaxou o corpo e abstraiu-se em uma atmosfera distante, embaçada, o trem começou a andar e ela observou as ruas com satisfação. LuAnn desejava apenas que o trem fosse em frente sem parar, precisava que a viagem fosse longa, para bem longe. Ela precisava deixar aquela vida para trás. Corre piloto, corre, fura essa rua e não para, vai, vai . Sua pressa era latente, um corte latejante, inundando o chão do trem de sangue. O ar vespertino cheirava a frio e ela queria sentir o vento no rosto, frio e cru daquele jeito, forte com a velocidade de seu avanço para algum lugar. O céu ficou roxo antes da noite cair, L